O CRISTÃO QUE SE SUICIDA ESTÁ SALVO?

Diante da pergunta: o cristão que se suicida está salvo? Eu diria que se ele realmente entregou sua vida a Jesus, ele não perde a salvação. E se ele não perde, não são os pecados dele que vão fazê-lo perder a salvação. (João 10.27-29). Somos salvos pelo que Cristo fez. Não pelo que fazemos! Apenas recebemos o presente da vida eterna, conquistada por Jesus naquela cruz.

Para quem crê que o crente perde a salvação, é natural concluir que o suicida perde a salvação por ter cometido um pecado grave. Mas, e se ele não se suicidar, mas mentir? E se ele invejar? E se ele manipular os outros? E se ele adulterar? É bom lembrar que até aquela olhada cobiçosa já é adultério! Pensando assim, ninguém vai conseguir se manter salvo, já que sempre pecamos. É bom lembrar que quem diz que não peca está desmentindo a Bíblia!

Sei que estamos falando de suicídio. Mas, considerando que tirar a própria vida seja um pecado, seria bom que levássemos a sério os outros pecados que cometemos! E a nossa salvação é pela graça ou pelas obras? É mediante a fé ou ao esforço humano? (Efésios 2.8,9).

Eu confesso que não tenho o que argumentar com quem crê que o crente perde a salvação! Pois eu não creio que o crente perde a salvação e a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, convenção a qual pertenço, defende que o salvo tem sua salvação assegurada, ou seja, ele não a perde!

Como pastor, creio que as ovelhas de Deus vão pro céu! Mas, quem são as ovelhas de Deus? Não sei! Mas tenho a esperança de que todos os membros sejam ovelhas e que todos sejam realmente salvos. Talvez imaturos, mas salvos! Caso contrário, deixemos de pregar nos velórios que nossos irmãos foram para o céu. Todos eles pecaram, seja na família, no sexo, no púlpito ou na liderança. Todos! Não se suicidaram, mas cometeram outros pecados.

Posso estar errado, mas não conheço ninguém que tenha méritos para se manter salvo! Carregamos em nós o potencial da queda. Seja para destruir o próximo ou a si mesmo!

Cresci ouvindo que o suicida vai para o inferno! Mas, como pastor, preciso de bases bíblicas claras para tratar do tema e a Bíblia não é direta sobre o assunto, em relação à salvação. (Deuteronômio 29.29). Entretanto, casos de suicídio têm sido recorrentes em nossas igrejas batistas, inclusive entre pastores!

Como pastor digo que um cristão não deve se suicidar, assim como não deve invejar, mentir, transar antes do casamento, adulterar, ser rebelde, mandão, caloteiro, etc. Daí a dizer que ele vai para o inferno, eu precisaria de uma base bíblica sólida e direta!

As obras da carne, mencionadas em Gálatas 5.19-21, QUE NÃO INCLUI SUICÍDIO, inclui pecados que os crentes podem praticar se não DEPENDEREM HUMILDEMENTE do Espírito (v.16). Por isso que Paulo faz um ALERTA AOS CRISTÃOS GÁLATAS! Será que não somos fisgados por nenhuma destas obras da carne? Mas, o apóstolo sugere aos mesmos CRISTÃOS GÁLATAS que, CASO algum irmão NÃO VENÇA NA LUTA CONTRA A CARNE, que os irmãos que estão vencendo o ajudem a se reerguer (Gálatas 6.1-3). Logo, a Bíblia admite que cristãos façam coisas feias de vez em quando ou durante um período. Ela não admite que os cristãos VIVAM NO PECADO CONTINUAMENTE! (1 João 3.9).

Além do mais, como seres humanos integrais (corpo, alma e espírito), temos problemas decorrentes do pensamento das emoções. Seja pelo adestramento de um ambiente ruim ou de um organismo doente. Tem crente que pensa o que não deve porque não sabe pensar de outra forma. Que sente e ressente o que não deveria por causa do pensamento (aprendido) errado, da memória e da imaginação adestrada para ver o pior da vida. E mais: problemas neuroquímicos ou neurofisiológicos podem afetar as emoções de um cristão convicto, que sofre carência de determinados neurotransmissores ou da deficiência na produção hormonal (nisso eu sou leigo! risos). Doença não é decisão. É limitação, é fragilidade, mas não é decisão!

Paulo disse: “Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus.” (1 Coríntios 6.9-10). O texto não fala de suicidas, mas fala de caluniadores, fala de trapaceiros e fala de avarentos. Quem nunca caluniou? Quem nunca trapaceou? Quem nunca foi pão duro?

Mas, o mesmo Paulo que condena o pecado disse: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito, o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está. Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, mesmo querendo eu fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus, por Jesus Cristo nosso Senhor! De modo que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado. (Romanos 7.18-25). Paulo admite ter feito o que não devia e não ter feito o que devia, servindo com a carne à lei do pecado!

Como pastor, defendo que a igreja não pode concordar com o pecado, mas isso não impede os seus membros de pecarem, ofendendo a santidade divina, independentemente do tipo e da gravidade do pecado. Todos pecam! Com descaramento, com arrependimento ou com hipocrisia! A igreja precisa pregar contra o pecado, mas com menos máscaras e com mais misericórdia!

A salvação que temos não é decorrente dos nossos méritos, mas, da graça salvadora de nosso Senhor Jesus Cristo! Apenas precisamos crer para receber. Recebendo esta salvação, somos atraídos por um desejo de seguir a Jesus. No entanto, em algumas áreas é mais difícil seguir do que em outras. Cada cristão tem uma área onde é mais fraco e onde é mais forte. E Deus sabe disso. Quando ele escreve nosso nome no Livro da Vida, não usa corretor ortográfico para apagar quando falhamos e reescrever quando acertamos novamente. A perdição é para o incrédulo, que decide não receber a vida eterna prometida por Jesus. A pessoa falhou (neste caso, tentou o suicídio), mas ainda pode contar com o perdão de Deus. Afinal, ela não queria acabar com a própria vida. Ela queria se livrar de uma angústia, provocada por um trauma, por medicamentos, por deficiência hormonal ou neurológica, etc.

Jó, Elias, Moisés e Jeremias quiseram morrer em determinado momento de suas vidas. Acredito que quando um irmão está pensando demais em ir para o céu, como se fosse uma fuga de uma realidade ou de um sofrimento insuportável, deveria poder encontrar irmãos e amigos para atravessar o deserto. Mas, como pedir ajuda sem ser julgado como descrente?

Que haja menos suicídio e mais companheirismo!

Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. (Romanos 8.38,39).

3 Comentários

  1. Hebreus 11, a galeria dos 'Heróis da fé', aqueles que foram justificados e foram para o céu antes da vinda de Jesus tem na lista um suicida no verso 32.

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  2. Qualquer pessoa pode ficar doente emocionalmente a ponto de cometer suicídio.
    Isto é um alerta para que façamos acompanhamento regular com terapeutas.
    Mas, caso, a doença venha tirar nossa vida, a graça de Deus é poderosa para nos alcançar e salvar.
    Sola gratia. Aleluia

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  3. É impressionante como nos apressamos em determinar o destino de uma pessoa, cuja vida física pode, perfeitamente, ter sido perdida em um momento em que a pessoa não tivesse o domínio pleno de suas faculdades e emoções.
    Fico com Romanos 8.38-39.
    Parabéns Roberlan!
    Excelente!

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