Para quem crê que o crente perde a
salvação, é natural concluir que o suicida perde a salvação por ter cometido um
pecado grave. Mas, e se ele não se suicidar, mas mentir? E se ele invejar? E se
ele manipular os outros? E se ele adulterar? É bom lembrar que até aquela
olhada cobiçosa já é adultério! Pensando assim, ninguém vai conseguir se manter
salvo, já que sempre pecamos. É bom lembrar que quem diz que não peca está
desmentindo a Bíblia!
Sei que estamos falando de suicídio.
Mas, considerando que tirar a própria vida seja um pecado, seria bom que
levássemos a sério os outros pecados que cometemos! E a nossa salvação é pela
graça ou pelas obras? É mediante a fé ou ao esforço humano? (Efésios 2.8,9).
Eu confesso que não tenho o que
argumentar com quem crê que o crente perde a salvação! Pois eu não creio que o
crente perde a salvação e a Declaração Doutrinária da Convenção Batista
Brasileira, convenção a qual pertenço, defende que o salvo tem sua salvação
assegurada, ou seja, ele não a perde!
Como pastor, creio que as ovelhas de
Deus vão pro céu! Mas, quem são as ovelhas de Deus? Não sei! Mas tenho a
esperança de que todos os membros sejam ovelhas e que todos sejam realmente
salvos. Talvez imaturos, mas salvos! Caso contrário, deixemos de pregar nos
velórios que nossos irmãos foram para o céu. Todos eles pecaram, seja na
família, no sexo, no púlpito ou na liderança. Todos! Não se suicidaram, mas
cometeram outros pecados.
Posso estar errado, mas não conheço ninguém que tenha méritos
para se manter salvo! Carregamos em nós o potencial da queda. Seja para
destruir o próximo ou a si mesmo!
Cresci ouvindo que o suicida vai para
o inferno! Mas, como pastor, preciso de bases bíblicas claras para tratar do
tema e a Bíblia não é direta sobre o assunto, em relação à salvação.
(Deuteronômio 29.29). Entretanto, casos de suicídio têm sido recorrentes em
nossas igrejas batistas, inclusive entre pastores!
Como pastor digo que um cristão
não deve se suicidar, assim como não deve invejar, mentir, transar antes do
casamento, adulterar, ser rebelde, mandão, caloteiro, etc. Daí a dizer que ele
vai para o inferno, eu precisaria de uma base bíblica sólida e direta!
As obras da carne, mencionadas em
Gálatas 5.19-21, QUE NÃO INCLUI SUICÍDIO, inclui pecados que os crentes podem
praticar se não DEPENDEREM HUMILDEMENTE do Espírito (v.16). Por isso que Paulo
faz um ALERTA AOS CRISTÃOS GÁLATAS! Será que não somos fisgados por nenhuma
destas obras da carne? Mas, o apóstolo sugere aos mesmos CRISTÃOS GÁLATAS que,
CASO algum irmão NÃO VENÇA NA LUTA CONTRA A CARNE, que os irmãos que estão
vencendo o ajudem a se reerguer (Gálatas 6.1-3). Logo, a Bíblia admite que
cristãos façam coisas feias de vez em quando ou durante um período. Ela não
admite que os cristãos VIVAM NO PECADO CONTINUAMENTE! (1 João 3.9).
Além do mais, como seres humanos
integrais (corpo, alma e espírito), temos problemas decorrentes do pensamento
das emoções. Seja pelo adestramento de um ambiente ruim ou de um organismo
doente. Tem crente que pensa o que não deve porque não sabe pensar de outra
forma. Que sente e ressente o que não deveria por causa do pensamento
(aprendido) errado, da memória e da imaginação adestrada para ver o pior da
vida. E mais: problemas neuroquímicos ou neurofisiológicos podem afetar as
emoções de um cristão convicto, que sofre carência de determinados
neurotransmissores ou da deficiência na produção hormonal (nisso eu sou leigo!
risos). Doença não é decisão. É limitação, é fragilidade, mas não é decisão!
Paulo disse: “Vocês não sabem que
os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais,
nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões,
nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o
Reino de Deus.” (1 Coríntios 6.9-10). O texto não fala de suicidas, mas
fala de caluniadores, fala de trapaceiros e fala de avarentos. Quem nunca
caluniou? Quem nunca trapaceou? Quem nunca foi pão duro?
Mas, o mesmo Paulo que condena o
pecado disse: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita
bem algum; com efeito, o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está.
Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico. Ora, se
eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho
então esta lei em mim, que, mesmo querendo eu fazer o bem, o mal está comigo.
Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos
meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me
levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros. Miserável homem que
eu sou! quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus, por Jesus Cristo
nosso Senhor! De modo que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas
com a carne à lei do pecado. (Romanos 7.18-25). Paulo admite ter feito o
que não devia e não ter feito o que devia, servindo com a carne à lei do
pecado!
Como pastor, defendo que a igreja não pode
concordar com o pecado, mas isso não impede os seus membros de pecarem,
ofendendo a santidade divina, independentemente do tipo e da gravidade do
pecado. Todos pecam! Com descaramento, com arrependimento ou com hipocrisia! A
igreja precisa pregar contra o pecado, mas com menos máscaras e com mais
misericórdia!
A salvação que temos não é decorrente
dos nossos méritos, mas, da graça salvadora de nosso Senhor Jesus Cristo!
Apenas precisamos crer para receber. Recebendo esta salvação, somos atraídos
por um desejo de seguir a Jesus. No entanto, em algumas áreas é mais difícil
seguir do que em outras. Cada cristão tem uma área onde é mais fraco e onde é
mais forte. E Deus sabe disso. Quando ele escreve nosso nome no Livro da Vida,
não usa corretor ortográfico para apagar quando falhamos e reescrever quando
acertamos novamente. A perdição é para o incrédulo, que decide não receber a
vida eterna prometida por Jesus. A pessoa falhou (neste caso, tentou o
suicídio), mas ainda pode contar com o perdão de Deus. Afinal, ela não queria
acabar com a própria vida. Ela queria se livrar de uma angústia, provocada por um
trauma, por medicamentos, por deficiência hormonal ou neurológica, etc.
Jó, Elias, Moisés e Jeremias quiseram morrer em
determinado momento de suas vidas. Acredito que quando um irmão está pensando
demais em ir para o céu, como se fosse uma fuga de uma realidade ou de um
sofrimento insuportável, deveria poder encontrar irmãos e amigos para
atravessar o deserto. Mas, como pedir ajuda sem ser julgado como descrente?
Que haja menos suicídio e mais companheirismo!
Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. (Romanos 8.38,39).
3 Comentários
Hebreus 11, a galeria dos 'Heróis da fé', aqueles que foram justificados e foram para o céu antes da vinda de Jesus tem na lista um suicida no verso 32.
ResponderExcluirQualquer pessoa pode ficar doente emocionalmente a ponto de cometer suicídio.
ResponderExcluirIsto é um alerta para que façamos acompanhamento regular com terapeutas.
Mas, caso, a doença venha tirar nossa vida, a graça de Deus é poderosa para nos alcançar e salvar.
Sola gratia. Aleluia
É impressionante como nos apressamos em determinar o destino de uma pessoa, cuja vida física pode, perfeitamente, ter sido perdida em um momento em que a pessoa não tivesse o domínio pleno de suas faculdades e emoções.
ResponderExcluirFico com Romanos 8.38-39.
Parabéns Roberlan!
Excelente!