LEIA O SEU TEMPO, PREGADOR!



A proposta deste modesto trabalho não é oferecer um curso de homilética nem de oratória. Mas, uma panorâmica de como compartilhar a mensagem bíblica, por meio de ensinos bíblicos e práticos, com uma palavra simples, que todos compreendam e apliquem no viver diário. Para tanto, exige-se que o expositor das Escrituras Sagradas leia o seu tempo, a fim de verificar se seus ouvintes são pré-modernos, modernos ou pós-modernos.

A era pré-moderna (anterior ao Iluminismo[1], séc. XVIII) compreende religiosa e filosoficamente uma época de respeito absoluto à tradição como fonte principal de autoridade e de significado. A ciência submissa à Igreja, a Filosofia serva da Teologia. O pregador apenas ensina a Bíblia. Ela já é aceita pelos fiéis. A doutrina pregada é assumida como norma de vida, já que ninguém questiona o ensino da igreja.

A era moderna compreende religiosa e filosoficamente uma época que começa a partir da Renascença[2] (séc. XV), atravessando o Iluminismo (séc. XVIII) e a Revolução Francesa (1789), em reação ao tradicionalismo da era pré-moderna. Nesta época, a verdade precisa ser testada pela experimentação científica e comprovada pela observação sensorial. O pregador passa a persuadir o ouvinte a aceitar a credibilidade da revelação bíblica, tentando harmonizar fé e razão. O pregador recorre a dados históricos, argumentação e provas científicas.

A era pós-moderna (a partir do séc. XX) é caracterizada pelo desencanto com a razão e o pensamento científico que, agravou problemas da humanidade. O materialismo não cumpriu a promessa de felicidade nem de suficiência. As instituições e as normas sociais não puderam mais esconder suas misérias. O homem passa a ser o seu próprio ponto de referência. Não é mais a religião, nem a ciência, nem a razão nem nada absoluto. O pregador precisa entender o modo de pensar deste ouvinte “desencantado, apático, relativista, subjetivo e independente de qualquer ideologia ou instituição” [3].

Para o ouvinte pós-moderno é difícil crer numa lei moral universal, com valores absolutos impostos, como no pré-modernismo. O pós-moderno não lida com a verdade em si, mas valoriza sua própria verdade. Sua opinião está no mesmo nível de qualquer outra, inclusive no mesmo nível do que a Bíblia diz. A verdade dele não é absoluta, mas é relativa. Os pós-modernos não veem o mundo como ele é, mas como eles são.

Este ouvinte desconfiado escolhe a sua própria verdade e não aceita autoridade externa. Para este ouvinte, a orientação dos pais, professores, líderes religiosos e da própria Bíblia são recebidas como mera opinião, sem nenhum direito de obrigação. Guiado pelos sentimentos ele está sempre especulando.

Para o ouvinte pós-moderno, a moralidade é uma questão de gosto. É o indivíduo que decide o que é aceitável ou não, porque não existem padrões morais absolutos. Mesmo que sejam bíblicos! A moral é relativa e os padrões morais são baseados em sentimentos.

A experiência espiritual deste ouvinte é informal e individual. Nada de formalidade nem coletividade! O eu é cada vez mais importante do que o nós. Por isso, cada um crê em algo e quando ambos se reúnem, parece uma teologia “salada de frutas”. O critério para crer está intimamente relacionado ao prazer, ao conforto e à gratificação. O importante é se sentir bem e não o cumprimento do dever.

A necessidade de relacionamentos é outra marca do ouvinte pós-moderno. Individualista, solitário, sem vínculos e sem ponto de referências, este ouvinte ainda tem necessidades de pertencimento e de estima.


[1] O Iluminismo é uma “Linha filosófica caracterizada pelo empenho em estender a razão como crítica e guia a todos os campos da experiência humana”. Para ler mais, cf. Dicionário de filosofia Nicola Abbagnano, p. 618.

[2] Também conhecida como a era do Humanismo, este termo faz referência ao período entre os anos 1400 e 1600, quando houve um acentuado retorno (renascimento) aos valores estéticos e culturais da Grécia e da Roma antigas, mudando a percepção da realidade, do Teocentrismo para o Humanismo. (cf. GRENZ, Stanley J., GURETZKI, David e NORDLING, Cherith Fee. Dicionário de Teologia: Edição de Bolso, p. 116).

[3]MARINHO, Robson M. A arte de pregar: como alcançar o ouvinte pós-moderno, p. 51.


5 Comentários

  1. PR. Roberlan, tem sido um cooperador e edificador, com os dons que recebeu do Senhor, glórias a Deus.

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  2. Ainda não tenho a compreensão da Rossana, mas quando crecer quero ser igual a você professor. Deus o abençoe!

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    1. Obrigado, gente boa, pelas palavras de apreço a mim e à nobre Rossana!

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  3. Valeu, Rossana! Fico feliz pelas considerações ao meu modesto texto.

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